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Projeto de pesquisa desenvolve película à base de óleo e amido de babaçu para a conservação de ovos

Por Mariana de Paula Medeiros

O ovo é um dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros, segundo a União Brasileira de Avicultores (Ubabef), está inserido em cerca de 99% do cardápio da população. O dado é de 2014, mas a produção de ovos em 2015 foi bem maior em relação ao ano anterior: foram 39,5 bilhões de unidades, como revela um levantamento feito pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), mostrando ainda que o consumo chegou a 191,7 de ovos per capita enquanto em 2014 foi apenas 182.

Mas não é uma tarefa simples conservar a qualidade interna desses ovos para chegarem às casas com as características satisfatórias para ingestão. Existem certos procedimentos que podem ser tomados logo que os ovos são postos para garantir essa qualidade, como a refrigeração, do contrário, pode ocorrer uma diminuição significativa no valor nutricional próprio do ovo já que é um alimento perecível. Entretanto, o sistema de refrigeração é muito caro e o comércio não investe nisso. Assim, a maioria dos ovos vendidos no Brasil são mantidos em temperatura ambiente e têm validade entre 4 e 15 dias, por isso necessitam ser comercializados o mais rápido possível.

Pensando nisso é que surgiu, em 2015, a ideia de desenvolver uma película para a conservação desses ovos por um período mais duradouro, a partir de material regional de baixo custo: o óleo e o amido de babaçu, palmeira abundantemente encontrada no Maranhão –74% da produção nacional da espécie, sai do estado

A pesquisadora Ana Lúcia Pereira, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) do curso de Engenharia de Alimentos, é quem coordena o projeto e explica “Terminamos a primeira parte, onde encontramos as concentrações ideais de óleo de babaçu e de amido extraído a partir da farinha de babaçu para compor a película. O próximo passo é verificar o efeito de plastificante na conservação desses ovos, utilizando essas películas. Do que já foi realizado, observamos que a película fez com que a qualidade do ovo fosse mantida durante o armazenamento por 28 dias desses ovos. Verificamos isso ao comparar os ovos dos tratamentos contendo a película com ovos que não tiveram esse recobrimento, inclusive desses a qualidade decaiu”.

A pesquisa ainda está em andamento e os testes que foram aplicados até então, respondem à qualidade microbiológica e físico-química, ou seja, dizem respeito à segurança e qualidade do ovo. Já a análise sensorial – nesse caso, questionado por causa do sabor e odor do ovo – ainda não foi feita, pois “o intuito está nos resultados relacionados à conservação do alimento”, pontua. No entanto, a pesquisadora afirma que a película não comprometerá o sabor e inclusive será comestível se sobreposta em outros alimentos (desde que sejam feitos testes preliminares), dando como exemplo as películas feitas a partir da cera de carnaúba, que são aplicadas em frutas e ajudam na manutenção ao mesmo tempo em que também são comestíveis.

Ao contrário do que se pode pensar, tal película não é visível “observamos a presença da película mais pelo brilho que ela proporciona à superfície do ovo, mas você não nota nitidamente algo por cima e você só vai conseguir retirar quando lavar: lavando ela vai sair, já que tem alguns componentes solúveis em água”, esclarece a responsável pela pesquisa. Além da conservação da qualidade do ovo, outra vantagem sobre o desenvolvimento da película está na sua condição biodegradável, ou seja, que não polui o meio ambiente.

A professora cita ainda a importância da extração do material regional, que se for levado em consideração, abre portas para uma nova forma de utilização do babaçu: produzir tal película pode custar pouco e ainda aumenta a valorização do babaçu que já vem sendo explorado em outras pesquisas “Podemos dar novas alternativas para utilizar essas fontes, ou seja, podemos levar isso a nível industrial, dando várias opções de utilização dessas matérias primas regionais”, conclui.

Estima-se que o estado ideal da película seja encontrado até 2018 e, após o encerramento das análises, estará apta para utilização. Ainda assim, a pesquisa e seus resultados estão restritos ao âmbito acadêmico, não possuindo proposta para inserção do produto final no mercado, embora os benefícios provenientes do mesmo sejam consideráveis.

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