in

Médico Pedro Mario defende que pais, obrigatoriamente, participem do pré-natal

Por Luziel Carvalho

Vocação

“Trazer uma criança ao mundo nos braços é como trazer algo dos céus no alcance das mãos. Parir é resultado de uma espera do corpo. Partejar é cortejar o nascimento, é respeitar o passo a passo do corpo dilatando-se entre os gritos e as dores, que parecem infinitas, e horas depois, aliviadas, convertidas em lágrimas de alegria nos choros sincronizados da mãe e do bebê, que se expressa pela primeira vez fora da barriga. O parto, então, é o resultadoda união de forças. Assim, o parteiro finaliza seu papel como aquele que não abandona a mulher em sua dor”, com essa descrição que Pedro Mario, professor e médico obstetra se reconhece. “A minha obstinação era ser parteiro. A questão de ser médico não era o meu objetivo. Uma série de outros colegas que fizeram vestibular para ser médico somente na faculdade decidiram o que fazer. Quer dizer, ser médico para mim, foi uma questão de requisito, não meu objetivo primeiro. Eu queria ‘receber’ a criança. Entrei na faculdade com esse pensamento, saí com ele e continuo pensando assim”, diz ele.

Pedro Mario iniciou sua vida acadêmica no curso de Medicina em 1974, graduando-se em 1980 pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Exerce a profissão de médico obstetra há quase 40 anos. Tem 7 especializações que vão de áreas da psiquiatria e psicanálise, passando por ginecologia, obstetrícia, além de administração em serviços da saúde, docência do ensino superior e terapia sexual. Também possui dois aperfeiçoamentos, um na área de infecções sexualmente transmissíveis, e outro, em patologia do trato genital Inferior e colposcopia. Tem mestrado em Saúde do Adulto Saúde e da Criança, pela UFMA, finalizado no ano de 2015 e cerca de 9 publicações em colaboração com outros pesquisadores.

É professor na UFMA desde 2017 e leciona em módulos de Saúde Mental, Sistemas Orgânicos Integrados, Laboratório de Habilidades e Internato em Ginecologia. No ofício como médico possui vasta experiência com ênfase em ginecologia, obstetrícia e sexualidade, atuando principalmente em temas dentro de sua área relacionados à prevenção à transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Conversando com Pedro Mario nota-se o zelo pelo ofício que escolhera seguir, além de sua preocupação sociológica no exercício da medicina. Ele procura conectar a profissão não somente enquanto uma atividade meramente técnica, mas trabalha na construçãoe mudança de valores com seus pacientes. “Hoje em dia, por exemplo, eu não faço mais pré-natal da mulher, eu só faço com o casal, porque o homem de modo geral, ainda se vê somente como reprodutor e se coloca nessa posição. Isso é uma herança medieval”.

De acordo com ele o homem ainda mantém um núcleo familiar baseado no patriarcalismo, enquanto reserva-se à mulher a criação eo cuidado com os filhos. E ainda que a mulher participe financeiramente, sua posição na gestão familiar continua sendo a mesma, não validada em igualdade com a do homem. Conforme Pedro Mario,o homem precisa mudar a sua concepção de família, bem como seu papel social. “Durante o pré-natal se os dois estiverem ali presentes podemos conversar sobre tudo isso. Porque é mais uma pessoa que irá fazer parte dessa família e que precisa ser acolhida. Filho não é só de mãe, é filho de pai e mãe, e essa percepção precisa ser desenvolvida. E isso, eu faço hoje. Então, quando o pai participa do pré-natal isso influencia positivamente no bem estar da mulher durante sua gravidez, de modo, que eu particularmente não tenho uma única paciente, há muito tempo, que tenha desenvolvido gravidez de alto risco. Logo depois da terceira consulta o pai já passa a demonstrar interesse pela maternidade e sobre os deveres de sua paternidade”, afirma Pedro Mario, sinalizando que futuramente pretende realizar uma pesquisa com acadêmicossobre essa questão.

Professor planeja estudo dirigido para gravidez de risco com alunos de medicina da UFMA

Em breve pretende também envolver estudantes de medicina em um serviço para atender especificamente pré-natal de alto risco, por meio de um convênio entre UFMA e Hospital Regional Materno Infantil (HRMI). “Como eu faço parte do comitê de mortalidade materna, me dispus a fazer pré-natal de alto risco, desde que o HRMI me dessas condições para que o pré-natal fosse multiprofissional. Envolvendo obstetra, pediatra, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, assistente social e educador físico, de modo que, todos esses profissionais fossem atuantes para ajudar a mulher na gravidez de alto risco, reduzindo esse dano, principalmente para que ela tenha seu filho em boas condições”, informa o médico.

 

Doutorado

Atualmente Pedro Mario vislumbra a possibilidade de um doutorado que fora sinalizado positivamente. O docente de medicina em sua proposta de pesquisa para a tese pretende trabalhar a importância e a eficácia do método terapêutico de dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares (EMDR – EyeMovementDesensitizationandReprocessing) no tratamento e cura do transtorno de ansiedade, do transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de pânico. O intuito é verificarse o EMDR é capaz de curar realmente e qual o tempo hábil para isso, comparando-o, também, economicamente com tratamentos psicofarmacológicos. “O psicofármaco não cura, apenas trata, alivia e retira a pessoa do problema, mas a hora que se interrompe o uso da medicação ele tende a reaparecer. Já o EMDR tem uma proposta de cura”, esclarece o médico. De acordo com seus estudos iniciais, apontou que seriam necessárias no máximo 10 sessões no método EMDR para ter como resultado um retrocesso completo do indivíduo e essa quantidade seria suficiente para uma possibilidade real de cura dos transtornos mencionados, além ser mais viável financeiramente, dado os gastos resultantes do uso de psicofármacos.

Mestrado

Em sua dissertação estudou a associação entre a atividade sexual e marcadores de imunidade adquirida em mulheres com AIDS, orientado por Maria Bethânia da Costa Chein.  Neste trabalho, o pesquisador afirma que a síndrome não tem correlação com a orientação sexual, e sim com o comportamento de vulnerabilidade, e que, portanto, têm-se através disso uma explicação plausível, muito diferente de uma visão norteada pelo preconceito e base do senso comum. Evidenciou ainda que “a atividade sexual pode estimular ou inibir a função imunológica, dependendo se moderada ou exaustiva. Assim, o sexo é uma importante atividade física, que proporciona bem-estar biopsicossocial, capaz de contribuir no estado imunológico, uma vez que o orgasmo libera a ocitocina, um neurohormônio produtor da receptividade sexual, que corresponde à sensação de satisfação, que por sua vez, melhora a resposta imunológica do organismo”. Portanto, o sexo pode ser algo benéfico para pessoas imuno-deprimidas por HIV, desde que baseado na segurança do ato sexuale equilíbrio físico. Entretanto, o pesquisador orienta que é necessário cautela ao estimular o ato sexual entre pessoas infectadas com HIV, já que precisam se reeducar nesse sentido para manter uma vida sexual relativamente normal e ativa, sempre seguras e protegidas sexualmente em todas as circunstâncias.

Ser médico

Ser médico socialmente no pensamento geral da população, de acordo com Pedro Mario, ainda corresponde a estar no topo da hierarquia profissional e que a antiga cultura expressa no desejo de muitas famílias em formar um filho como médico demonstra bem o status que essa profissão possui até os dias atuais. Para ele, paralelamente a isso, existe uma cobrança social sobre o profissional da medicina que pesa negativamente em relação a este, impondo um padrão de vida, como se o médico tivesse obrigatoriamente que estar consumindo luxos, vestindo ou usando coisas caras, de modo que muitos se sujeitam a essa condição, forçando-se a uma apresentação social artificializada e desnecessária nesses termos. “Por que médico tem que andar de terno e gravata, no sapatinho, ou mesmo ter sempre um carro do ano? Por que isso é o que a sociedade e ele passa a se cobrar. E eu, nunca olhei pra isso. Meu primeiro carro foi um Fusca caindo aos pedaços e, nem por isso, os pacientes deixaram de me procurar”, expõe ele.

Segundo Pedro Mário, o médico é um indivíduo que exerce uma tarefa dotada de um caráter íntimo e que a consulta mostra o quanto o indivíduo precisa estar aberto para confessar nela os problemas relacionados à sua saúde, já que o profissional da medicina, é aquele que ouve as dúvidas, as aflições e faz orientações, enquanto o pacienteconfidencia um fragmento de sua vida.No momento em que assume esse papel,o médico, se aproxima do paciente em um nível de relação que aos poucos vai tornando-o muito familiar. O consultório, para Mario, é uma espécie de confessionário.

É importante e obrigatório para Pedro Mario que um médico se humanize e compreenda que a medicina não se trata apenas um dever técnico e que é contraditório ao profissional dessa área tratar e curar pessoas, e ao mesmo tempo, matar o ser humano que existe dentro de si mesmo.Onde está sensibilidade do médico, senão no homem dentro de si? Ele só pode buscar o médico que é,na profundidade do homem dentro de si. Para isso, é necessário que ele se conheça e saiba o que tem de melhor para cultivar e oferecer ao médico que é, assim como, reconhecer o que há de ruim dentro de si, para trabalhar isso, e não interferir em seu lado profissional. Eu não sou só médico! Se eu fico inflando meu ego enquanto médico, eu mato o ser humano dentro de mim, me desumanizo, porque só me vejo profissionalmente e nunca além disso”, reflete o obstetra.

Pedro Mario se distingue por não realizar consultas baseado em produção, mas sim na qualidade do atendimento de seus pacientes, o que para ele são coisas bem distintas. Relatou que um profissional da medicina não precisa viver temendo demissão, sentindo-se obrigado a atuar colaborando com um mercado que, além de o desvalorizar como profissional, não promove a qualidade ou o desenvolvimento da saúde, ao contrário a precariza. Por isso, a importância do médico justificar e conversar com os pacientes para que entendam e o ajudem na solicitação de mais contingente profissional. “Se o médico não fala nada, os pacientes vão pensar que ele é preguiçoso, que não quer trabalhar. Por isso é preciso ter essa percepção, ter essa interação para valorizar-se e promover um atendimento digno”.

Pedro Mario, é um professor prestativo, descomplicado, sensível e que não foge à realidade necessária em suas falas. É um médico que assim tornou-se, por reconhecer valores e princípios que se distanciam de uma visão conectada ao glamour de um status profissional. Para ele, o bom médico não é reconhecido pelo vislumbre que tem de si mesmo, mas pelo amor que tem pela medicina, manifestado no cuidado com todos aqueles que o procuram e necessitam dele.

 

 

 

One Comment

Leave a Reply

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Acadêmico de Medicina estuda a Síndrome de Burnout entre Policiais Militares

Ciência UFMA/ÁudioITZ: Pesquisadora discute mudanças no Rádio em entrevista