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Pesquisa mapeia população em situação de rua em Imperatriz

Por: Gabriel Henrique

A necessidade de saber mais sobre quem são e como vivem as pessoas que vivem na rua de Imperatriz (MA) é o que motivou a pesquisa: “Aspectos sociodemográficos da população em situação de rua da cidade de Imperatriz”. O trabalho é coordenado pela professora no curso de Engenharia de Alimentos na Universidade Federal do Maranhão, campus Imperatriz, e tutora do PET (Programa de Educação Tutorial), Adriana Crispim de Freitas,  doutora em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

O estudo é consequência de um projeto sobre qualidade de vida e parte da premissa de que há uma ineficiência das políticas públicas brasileiras no controle da população em situação de rua. A proposta é levantar informações sobre as pessoas nessa situação avaliando fatores de risco e principalmente o que levou esses indivíduos a estarem nas ruas.

“É importante que a sociedade saiba primeiramente, que há uma diferença entre moradores de rua e pessoas em situação de rua, em muitos casos a pessoa apenas transita pela rua durante o dia e a noite vai para abrigos ou a casa de familiares e há aqueles que de fato vivem nas ruas. Contudo, a violência, o preconceito e o descaso, não fazem distinção dessas pessoas, quando não deveriam existir sobre nenhuma circunstância”, afirma Adriana Freitas.

Os resultados preliminares da pesquisa foram apresentados no VIII FIPED (Fórum Internacional de Pedagogia) construindo pilares em relação a questões sociais e estimulando o debate sobre políticas públicas.

Ciência UFMA – Qual foi o ponto de partida para a realização de um estudo sóciodemográfico com pessoas em situação de rua?

Adriana Crispim de Freitas – Incialmente a pesquisa surgiu do interesse em trabalhar com essas pessoas em situação de rua através de algo especifico, por exemplo, há casos onde o indivíduo possui uma família, uma base estrutural. Infelizmente, a sociedade parte do princípio de que o morador de rua não tem condições de estar em um lugar melhor sendo acolhido e cuidado. A ideia então foi compreender os motivos que levam uma pessoa a viver em condições de rua e porque ela continua nessa situação. Seria falta de auxilio da sociedade? Falta de convívio e interação familiar? Enfim, através dessas indagações surgiu a ideia de trabalhar com o projeto.

Quem são a população em situação de rua?

Pedintes, flanelinhas, pessoas que saíram do convívio familiar por conta de desentendimentos, drogas e afins.

Há maior incidência é de homens ou mulheres?

Homens.

Quais sãos os motivos principais que levaram essas pessoas a estarem em situação de rua?

Geralmente as famílias são por conta do financeiro, a própria ruptura do mercado de trabalho é um dos maiores fatores. O enfraquecimento dos laços familiares também é uma das causas. Os jovens são pelas drogas, há também os pedintes, a maior causa também é em relação ao financeiro.

A maior parcela dessas pessoas vive há quanto tempo nesta situação?

Mais de 40% dessas pessoas vivem a mais de 5 anos nas ruas. Uma parcela dorme em abrigos ou em casa, mas a maior incidência é a moradia na rua.

Segundo a pesquisa realizada para o projeto, o crescimento dos moradores em situação de rua é condicionado a fatores sociais entre outros diversos. Como foi feito o mapeamento desses fatores em nível da cidade de Imperatriz?

Primeiro, o PET é composto por cerca de 60% de discentes do curso de Enfermagem, eles são muito engajados com essas vertentes. Quando resolvemos construir o projeto, observamos que existia o Consultório de Rua, que é um programa do Governo Federal que chegou à cidade de Imperatriz em 2011. Em todo estado do Maranhão a única cidade que abriga o projeto é Imperatriz. Como eles trabalham com os moradores de rua, ficou fácil, através de uma parceria, trabalhar as questões que nos traziam duvidas. Chegando ao Consultório de Rua a parceria nos possibilitou criar um cronograma semanal com profissionais da saúde – médicos e psicólogos – que são especialistas em trabalhar com essas pessoas, e assim, não expor os nossos orientandos.

Na articulação da parceria, o Consultório de Rua nos informou que é de interesse deles, inclusive como meta de trabalho, mapear o perfil do morador em situação de rua. Contudo, eles trabalham muito com a urgência, por exemplo, quando uma pessoa está precisando ser levada para o hospital ou ela está carecendo de um tratamento imediato. Por conta do foco nessas questões emergenciais, isso acaba por distancia-los de fazer esse mapeamento.

Houve colaboração por parte da Secretaria de Desenvolvimento Social, na disposição de dados que norteassem pontos onde há maior incidência de moradores em situação de rua?

Há o apoio da Secretaria em relação ao projeto. No entanto, o trabalho deles é muito pontual, ou seja, onde é mais emergente é a área que demanda maior trabalho. Então eles se concentram na região central da cidade e na estrada do arroz. Mas ainda há essa dificuldade, pois estamos trabalhando paralelamente.

Vocês buscaram outras instituições de apoio ao projeto?

Sim, em programas sociais da igreja, que ajudam em outras vertentes. Procuramos também o apoio do “Centro pop” onde trabalhamos a extensão. Outra instituição é a Casa do Senhor, onde o Consultório de Rua já realiza atividades e de certa forma ajudou na logística do nosso projeto.

Então como funciona o processo metodológico da pesquisa?

A metodologia é baseada principalmente em leituras relacionadas ao público alvo. Utilizamos também uma cartilha do próprio Governo Federal disponibilizado para o consultório de rua. É através desse norte que montamos um questionário com 12 questões, com o intuito de traçar o perfil da população em situação de rua.

Quantas pessoas foram entrevistadas até a fase atual do projeto?

Os dados ainda estão em processo de finalização, mas estamos com aproximadamente 50 pessoas. Atualmente estamos trabalhando em algumas vertentes e a expectativa é que até o final de 2016 trabalharemos em outras. A aplicação dos questionários é complicada porque muitas vezes o morador em situação de rua não está em condições de conversar com a gente, há casos em que muitos estão sobre o efeito de algum entorpecente ou a pessoa migrou para outras localidades da cidade.

Há relatos de experiência que se assemelham entre os moradores quando questionados sobre a vivência nas ruas?

Sim, isso já era esperado. A população de modo geral que circula pela cidade no dia a dia, ao se deparar com moradores de rua ou moradores em situação de rua, sentem medo. Então, há relatos de preconceito, agressões físicas e verbais. A falta de segurança é um dos maiores problemas que essas pessoas enfrentam.

A pesquisa apresenta um apelo social muito forte. O que vocês esperam em relação à criação de políticas publicas com a finalização da pesquisa?

Quando publicamos em um evento como o FIPED nós já estamos estimulando o debate sobre a questão de políticas públicas. Já trabalhando a extensão, nós mostramos os diretos e deveres de cada um, o modo como eles devem se portar em relação a alguma dificuldade no sistema. O acesso à saúde, por exemplo, é uma dificuldade, porque muitos deles acabam perdendo o cartão do SUS então há uma recusa no atendimento devido a essa situação.

 

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Jesus Marmanillo