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Acadêmica de Pedagogia discute em pesquisa a importância da autobiografia como ferramenta de formação docente

Por Luziel Carvalho

Recentemente formada pela UFMA, a pedagoga Leia Jennyfer apresentou seu trabalho de conclusão de curso um estudo em que debate a autobiografia como ferramenta de formação docente. O método é um processo narrativo que condensa as experiências de vida de um indivíduo tendo como foco a docência. A acadêmica trabalhou aspectos de sua própria história de vida relacionando-os com a sua experiência como docente.

O interesse da estudante pelo tema surgiu a partir do cotidiano vivenciado dentro da sala de aula e de apontamentos feitos pela orientadora, professora Herli de Sousa, doutora em Educação, atual coordenadora e professora no curso de Pedagogia – UFMA, campus Imperatriz. “Eu me interessei pelo assunto porque já tinha feito um trabalho autobiográfico no ensino médio (ainda como aluna) e gostei muito. Achei interessante como a história de vida e a produção autobiográfica poderiam contribuir para a formação profissional. Meu objetivo com esse trabalho era mostrar as contribuições que a autobiografia pode trazer à formação”, justifica Jennyfer.

Herli de Sousa destaca que a autobiografia é um campo teórico, que completa 101 anos de existência mundialmente, que existe como linha de pesquisa no Brasil há cerca de 40 anos. Esclareceu ainda que os primeiros trabalhos científicos realizados no país estão ligados à Maria da Conceição Passeggi, doutora em Linguística, que trabalha em conjunto com outros grupos de pesquisadores, abrangendo mais de seis estados no país. De acordo com ela, a linha de pesquisa existe há cerca 5 anos na UFMA – Imperatriz e tem sido um instrumento eficaz para entender processos educacionais, além de contribuir na auto-formação de educadores, resultando em trabalhos científicos como o de Jennyfer.

Leia Jennyfer apresentou seu trabalho de conclusão de curso um estudo em que debatE a autobiografia como ferramenta de formação docente

A linha de pesquisa passa principalmente pela compreensão educacional da infância, embora seja usada também em outras esferas e contextos. “Antes a criança estava presente nas pesquisas, mas não as protagonizava no sentido narrativo. Esse campo teórico contribui consolidando-a como protagonista, evidenciando em sua história de vida pontos importantes para reflexões no viés educacional. Concede-se a criança a liberdade de falar em rodas de conversa, que é uma técnica aplicada dentro da pesquisa autobiográfica. Assim, a partir dos elementos narrativos entendemos as temáticas que são colocadas sob a ótica de quem vivencia a infância naquele momento”, elucida a orientadora.

Outra perspectiva desse campo teórico, aplicada por Jennyfer, que é a construção memorial de sua história de vida em consonância com a sua formação e vivências, esclarece Herli de Sousa. Para a orientadora, além da produção de memoriais, também podemos fazer uso dessa técnica em relatórios de estágio, que podem ser pensados como um processo de autoformação. A autobiografia tem como resultado uma mecânica, em que o sujeito se reforma através do contato e compreensão das próprias experiências de vida. É o indivíduo intervindo conscientemente em sua formação, atuando em favor dela.

            Para um professor a reconstrução dessas experiências são necessárias à compreensão de qualquer cenário educacional. É um instrumento que se pode fazer uso para estudar e problematizar as mais variadas configurações pertinentes ao ofício do educador dentro de sua própria realidade. Portanto, contribui para a reflexão de práticas e intervenções educativas mais eficazes. De acordo com a pedagoga recém-formada,“ao lermos a autobiografia de professores isso pode nos levar a repensar nossa prática profissional e ao lermos a autobiografia de alunos, enquanto educadores, podemos conhecer mais sobre eles, suas qualidades e suas fragilidades, traçando metas e conduzindo atividades que atendam necessidades mais específicas. A educação autobiográfica permite algo mais personalizadoe mais próximo à realidade de cada um”.

E mais que isso: “Você, ao mesmo tempo que se entende como pesquisador, também se compreende como alguém que está em processo de formação. Você repensa sua vida, e não a vê apenas como uma história contada. Há toda uma subjetividade com riqueza metafórica, poética e científica nesse universo, capaz de produzir mudanças em nossas práticas educativas e com potencial de mudar quem somos. A história de vida é interdisciplinar”, complementa Herli de Sousa.

Herli de Sousa destaca que a autobiografia é um campo teórico, que completa 101 anos de existência mundialmente, que existe como linha de pesquisa no Brasil há cerca de 40 anos

Para Jennyfer, é conclusivo que a autobiografia aprofunda o autoconhecimento do educador e que grande parte de nossas escolhas profissionais são fruto de nossas experiências de vida. “Descobri aspectos da minha infância que me influenciaram a ser pedagoga, seja nas brincadeiras de escolinha ou com minha tia educadora, que me levava para a escola onde trabalhava, e eu a via dando aula. Era uma turma do EJA. Alguns alunos me faziam perguntas, pediam que eu os ensinasse a ler e eu ajudava também nas lições. Eu ainda era criança”, diz ela.

A história pessoal carrega em si um potencial capaz não somente de sensibilizar, mas também conectar-se com a vida de outras pessoas, de tal modo, que isso facilita experiências positivas no processo educativo, além de mediar um processo de autoformação que interfere diretamente na rotina profissional. Entrar em contato com autobiografias provoca no educador o desejo de sair do estado de dormência, porque mexe com o íntimo emocional e intelectual entre coisas que ele vive e se identifica, motivando assim, novas formas de explorar sua profissão por modos de aprendizagem narrativa. “A partir das pesquisas que fiz sobre esse tema, percebi que a autobiografia permite ao indivíduo um processo de autoreflexão. A pessoa se forma e se reforma. E isso, permite ao indivíduo uma construção continuada de conhecimento através do estudo de sua trajetória. Através da experiência de outras pessoas podemos refletir sobre nossa vida profissional”.

Certamente, não existe na narrativa autobiográfica metodologias ou conhecimentos teóricos e práticos precisamente sistematizados, o que exige um cuidado para não sacralizar uma experiência de vida, e sim problematizar uma realidade vivida. É uma competência do educador conectar isso com sua capacidade epistemológica e investigativa para iluminar sua prática cientificamente. A autobiografia funcionará como um apoio alternativo que não foge às reflexões rigorosas. São os discursos de quem se envolve no contexto educacional que dão legitimidade para a transformação da educação.

Para a autora do trabalho, o maior aprendizado é reconhecer que não é fácil falar de si próprio. Sempre haverão assuntos que doem tocar, mas que assim como nosso emocional às vezes se fecha diante de um trauma entre experiências negativas, os ambientes educacionais não devem reproduzir esse mecanismo, se fechando, assim como fazemos em algumas situações emocionalmente complicadas. Ao contrário, devem estar cada vez mais dispostos a abrirem espaço para reflexão e ajuda, construindo uma via de libertação e de compreensão livre de nossas experiências para podermos ressignificá-las. É nesse momento queautobiografia protagoniza o processo de formação, servindo como um apoio ou forma de superação, ensinando e apontando novas formas de reagir ao mundo em que vivemos.

A pesquisa pode ser encontrada na biblioteca da UFMA.

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José Henrique Sousa Assai

Webinario – Eduardo Pellanda