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Professor Marcos Fábio e aluno de jornalismo exploram técnicas de entrevista em pesquisa histórica sobre a UFMA

Por Luziel Carvalho

O professor doutor Marcos Fábio Belo Matos, que atua no curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz e também está no programa de Mestrado na área, coordena um projeto que busca levantar, por meio de entrevistas, os 40 anos de história da UFMA em Imperatriz. Um resultado parcial desse estudo foi o artigo Entrevista em Jornalismo e em História Oral: Aproximações e Distanciamentos, produzido por Marcos Fábio em parceria com o estudante de jornalismo Hugo Leite, que o apresentou no Intercom Nordeste 2019 em São Luís – MA. Como defendem no texto, a entrevista é uma técnica que revela a construção de um registro, de um documento com relevância histórica e que, por esse motivo, necessita da habilidade técnica de quem o constrói e interpreta. Sustentam também que a entrevista permite diversas possibilidades interpretativas.

Hugo relatou que tem aprimorado seus conhecimentos sobre entrevista durante esse tempo que tem pesquisado o assunto. “Estudar a entrevista me ajudou a compreender os métodos e processos que a envolvemtanto na história oral, como no jornalismo. Confesso que, de início, muitas coisas eu não tinha o menor conhecimento, mas após ler autores das duas áreas pude ter um parâmetro claro sobre o que é a entrevista e como aplicar esse aprendizado na prática”, diz Hugo. Para ele, a entrevista na pesquisa científica é um recolhimento detalhado de informações com um intuito bem sistematizado e programado.

Hugo apresentou estudo no Intercom Nordeste este ano
Professor Marcos Fábio coordena o estudo

Outros apontamentos feitos por Marco Fábio que para ele são fundamentais, correspondem à fase de planejamento de uma entrevista enquanto método de pesquisa. São eles:

  • Faça pesquisase leituras aprofundadas. Se abasteça de um conhecimento amplo sobre suas fontes e daquilo que será pesquisado a partir delas.
  • Todo o tema deve ser extremamente esmiuçado por parte de quem pretende realizar uma entrevista, já que isso melhora efetivamente a objetividade de cientificamente, de modo, que você consigase preocupar com a profundidade das coisas ao construir seu roteiro de perguntas.
  • Evite roteiros de perguntas muito fechados e conceda a liberdade da fala.
  • A entrevista deve ser baseada em um panorama de vivência dos personagens entrevistados.
  • Se você pretende fazer algo mais biográfico elabore perguntas no intuito de investigar do nascimento à morte, ou mesmo, até o momento presente. Portanto, nesse caso, estabeleçauma linha do tempocom informações que obedeçam a uma cronologia.
  • Se você pretende buscar memórias de uma comunidade, você não precisa seguir necessariamente uma cronologia. Construa sua entrevista elencando temas afins, e a partir deles elabore suas perguntas, tornandopossível o resgate dessas memórias, desde que, correspondam aos fins do seu trabalho de pesquisa.

Questionado sobre os erros que devemos evitar ao realizarmos uma entrevista, o professor afirma: “não faça perguntas genéricas ou constrangedoras.Evite todas as questões que não têm sentido claro, ou mesmo, questionamentos muito longos, porque isso confunde o entrevistado. Também não faça mais de uma pergunta dentro de uma só, porque raramente esse entrevistado responderá as duas. E acima de tudo, não seja repetitivo, porque isso cansa e faz o entrevistado abandonar o interesse pela entrevista. Pergunte diretamente, sem rodeios e sem desviar-se do assunto previamente estabelecido”.

Para Marcos Fábio, não existe um limite de perguntas desde que tenham qualidade, e que é possível fazer boas entrevistas com poucas perguntas ou com muitas perguntas, e isso, depende da quantidade de informação que você é capaz de extrair com as respostas dadas. Esclareceu ainda,que a entrevista deve ter como resultado técnico informações qualificadas e relevantes.

A entrevista, por se tratar de um campo de lembranças, é importante, para quem a realiza, a habilidade de potencializar o resgate dessas lembranças para que sejam aparentes no discurso do entrevistado.Assim como, devemos estar preparados para o improviso, posto que há situações em que o entrevistado não entrega os resultados esperados, dando respostas muito curtas ou mesmo não muito. “Portanto, é preciso habilitar-se de um talento investigativo e estar atento às respostas do entrevistado e já imediatamente sanando possíveis dúvidas surgidas naquele momento por algo que não tenha ficado muito claro nas falas”, diz o professor.

Outro ponto importante trabalhado no artigo pelos autores, trata-se da compreensão sobre o humor do entrevistado, já que é um fator pode afetar seu rendimento. Recomenda-se então, que se faça uma breve aproximação para a entrevista com uma conversa muito natural e cotidiana, mantendo um fluxo calmo e evitando perguntas que exijam muito do entrevistado nesse primeiro momento.A fonte precisa sentir confiança e segurança no entrevistador para se abrir, por isso sempre respeite sob qualquer circunstância a exigência de privacidade ou sigilo. Escolha ambientes que sejam propícios à liberdade de expressão e que sejam confortáveis a ambos.

Atrasos nem sempre representam irresponsabilidade do entrevistado, afinal, imprevistos acontecem com qualquer pessoa, e o fato da fonte se apresentar mesmo com atraso, pode representar seu esforço diante de problemas que anteriormente tenha enfrentado para estar ali, mas, que não o impediram de cumprir seu compromisso. Portanto, mantenha sua serenidade emocional e bom tratamento em todas as ocasiões. Em caso de haver a necessidade de mais de um encontro, evite marcar em datas muito distantes uma da outra, para não quebrar a continuidade ou estimular mudanças de discursos muito bruscas no entrevistado.

Outras preocupações, também são demonstradas pelos autores no artigo, entre elas estão o retorno dos resultados da pesquisa ao grupo ou comunidade que gerou aquele trabalho, por se tratar de uma questão ética e dever do pesquisador, além de ser uma condição básica que fundamentalmente está entre as razões de sua pesquisa.  “Para organizar os dados recolhidos por meio das entrevistas, é preciso mais uma vez que o pesquisador retorne ao seu projeto de pesquisa e compreenda seus objetivos para detectar que tipo de informações precisa para responder a eles”, diz.

Hugo Leite reforça sobre as questões éticas que envolvem a entrevista e o cuidado para não haver uso indevido daquilo que foi coletado. Aconselha também sobre a superação do medo do contato com o outro, porque a entrevista científica realmente exige muita aproximação, em algumas circunstância adentrando em níveis de intimidade da vida do entrevistado. Orientou também, o cuidado na escolha das fontes porque estas realmente devem ser conhecedoras daquilo que você pesquisará, mesmo que seja para tratar sobre coisas cotidianas.

 

Dicas de leituras sobre o tema:

  • “Entrevista o Diálogo Possível”, de Cremilda Medina
  • “Por Trás da Entrevista”, de Carla Mühlhaus
  • “Fontes Orais e Historiografia: Avanços e Perspectivas”, de Rejane Silva Penna.

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