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Pesquisador pretende desenvolver bioinseticida contra Aedes aegypt à base do óleo de arruda

O óleo essencial extraído da planta Ruta graveolens Linnaeus (ou arruda: erva aromática utilizada tanto na religião, como para fins medicinais – ainda que sem comprovação científica precisa) pode ser um poderoso combatente às larvas do Aedes aegypt. Uma pesquisa realizada em Imperatriz pretende desenvolver um bioinseticida que, além de exterminar as larvas do mosquito, possua baixo custo e menores danos ao meio ambiente – em comparação aos sintéticos que já existem. A pesquisa teve início em 2011 sob orientação da pesquisadora Adenilde Nascimento, do departamento de tecnologia química da UFMA. Atualmente está sob a coordenação do docente do curso de engenharia agronômica da UEMA, José Fábio França. O Aedes aegypti foi responsável por aproximadamente 20 mil casos de dengue, zika e chikungunya no Maranhão até agosto desse ano, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Em busca de uma planta aromática que não possuísse muitas aplicações na literatura (como fins alimentícios, por exemplo), o doutor em química analítica, José Fábio, quis encontrar no óleo essencial da arruda as características ideais para desenvolver um larvicida que fosse, ao mesmo tempo, eficiente e econômico. Sua capacidade foi confirmada: no experimento realizado em 2011, onde o objetivo era comprovar a potencialidade do óleo, 100% das larvas utilizadas foram exterminadas com uma concentração de apenas 70 µg mL-1 da solução teste – fração tão pequena que não pode ser expressa em gramas ou ml. Em outras palavras: as larvas desaparecem – e não é necessário muito óleo de arruda para alcançar esse resultado.

O sucesso da atividade da substância extraída da planta foi devido à presença dos compostos: 2-nonanona (39,17%) e 2-undecanona (47,21%), os quais possuem propriedades inseticidas comprovadas.

pillar3-arrudaPor que será mais vantajoso que os larvicidas sintéticos e naturais já existentes no mercado?

Os bioinseticidas sintéticos ocasionam malefícios irreversíveis ao meio ambiente: ao ser aplicado em lavouras, por exemplo, pode atingir rios e lençóis freáticos. A consequência é a morte abrupta de seres vivos.

Esse impacto negativo atinge também o homem: ao ser contaminado, os organofosforados (compostos que possuem fósforo como parte da molécula) presentes no produto podem causar doenças degenerativas como o câncer. “Quando você se contamina com qualquer tipo de agroquímico, você pode desenvolver com o tempo uma série de sintomas a mais do que o que está no rótulo, isso depende muito do meio em que você se encontra”, salienta o pesquisador José Fábio.

Outro fator é a resistência adquirida pelo inseto. O Temefós, por exemplo, é um agrotóxico que, ao entrar em contato, provoca uma redução drástica das larvas. A complicação é que, com o passar do tempo, a larva se adapta ao produto. Isso acontece devido à necessidade de alta concentração da substância: 100 miligramas por litro. Em contradição, esses riscos são minimizados drasticamente com o óleo essencial de arruda – já que ele exige uma concentração consideravelmente baixa, medida em microgramas.

Quanto aos larvicidas naturais à base de outras plantas, o pesquisador afirmou que “já existem no mercado e combatem especificamente o Aedes aegypti, mas são feitos à base de plantas economicamente inviáveis: o valor de mercado delas é muito alto, por causa do óleo”.  A arruda, por não ter muita aplicação e ser cultivada em todo o Brasil, será mais acessível e eficiente. “Vamos imaginar assim: óleo normal: 10 reais por ml; óleo de arruda: 50 centavos, um real… Por aí”, exemplificou.

Extração do óleo

A primeira fase é a coleta da planta. Logo após, no laboratório, a arruda é lavada e suas partes mais afetadas (materiais atacados por pragas ou doenças) são descartadas. Resta trabalhar, então, com as partes aéreas (caule e folha) da planta. Logo em seguida, o óleo essencial é extraído por hidrodestilação através de um aparelho do tipo “Clevenger”, em uma temperatura de 100 ºC. Posteriormente, o óleo é seco, armazenado e submetido a análises físicas e químicas.

pillar2Captura dos ovos para análise

As larvas, por sua vez, são extraídas por meio de uma armadilha simples construída com copos de plástico, água e madeira. Essas armadilhas são espalhadas por terrenos baldios de toda a cidade de Imperatriz. “A fêmea do Aedes aegypti, deposita seus ovos na parte superior à lâmina d’água, na parte da madeira ainda úmida, mas fora da água do copo”, explica o pesquisador. A consistência rugosa da madeira proporciona proteção aos ovos.

Qual o desafio?

O desafio atual é aplicar a substância no meio ambiente sem que ela seja transferida rapidamente da fase líquida para a fase gasosa. “A partir do momento que ele (o bioinseticida) sai daqui (do laboratório), teremos que trabalhar com fatores como: luminosidade, pluviosidade, presença de matéria orgânica e etc., tudo tem que ser avaliado. Às vezes ele entra em contato com a água e fica depositado no fundo da poça d’água, e com isso ele pode perder ação”, explica José Fábio.

A possível solução desse entrave é o armazenamento do óleo dentro de esferas hidrogenadas, compostas de alginato (fibras retiradas de algas marinhas e algumas bactérias). “Estou utilizando essas esferas para que, lá no meio ambiente, ele (o óleo) não volte 100%. Quero dizer: para que ele possa ser liberado continuamente, aos poucos, e mantenha a mesma porcentagem de eliminação das larvas”, elucida o docente.

O professor afirmou que o maior obstáculo do processo experimental é manter uma quantidade igualitária de óleo essencial em cada unidade de esfera.

Além disso, o experimento que até 2014 era financiado pela Fapema, está parado em função da escassez de larvas. O professor afirmou ainda: “Independente ou não de ter o financiamento da Fapema, nós demos continuidade aqui no laboratório, pois temos a bolsa dos alunos de iniciação científica da UEMA. Então quer dizer: não tem financiamento total de pesquisa, mas tem pelo menos o auxílio dos alunos.”

A pesquisa iniciou em 2011, quando sob a diretriz da pesquisadora da UFMA Adenilde Nascimento, o orientando José Fábio descobriu o potencial bioinseticida do óleo da planta. Por se tratar de processos lentos de estudo, não há expectativa de prazo para que o produto chegue ao mercado.

E-mail do professor: fabiorlanda@yahoo.com.br

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